Por Élida Zuchini
Relato
Abrangendo uma extensa área no extremo sul da América, a Patagônia ocupa parte dos territórios da Argentina e do Chile, tendo a Cordilheira dos Andes delimitando a fronteira entre os dois países. No Chile, as formações são de fiordes glaciares e uma floresta temperada, com mais precipitação durante o ano. Já na Argentina, a paisagem de bosques, lagos e glaciares contrasta com estepes áridas e desérticas.
Já estive em diferentes cadeias montanhosas ao redor do mundo, mas sinto na Patagônia uma energia especial e o contraste das diferentes paisagens ao redor de todo o seu território e a hospitalidade de seu povo ganham meu coração como meu lugar favorito no mundo.
O SONHO DE VIVER NA PATAGÔNIA ARGENTINA
Cresci no Mato Grosso, muito longe das montanhas e dos esportes de aventura, mas sempre sonhei em conhecer essa região. Até que finalmente, estive pela primeira vez na Patagônia em 2018 e essa viagem foi um divisor de águas na minha vida. Foi minha primeira expedição independente com uma amiga. Os desafios superados durante aquela expedição me fizeram perceber que eu poderia fazer, guiar, me aventurar por onde eu quisesse e assim, ganhei coragem de me lançar em expedições ao redor do mundo.
Tentei retornar para a Patagônia nos últimos anos e o sonho foi adiado várias vezes por conta da pandemia, até que finalmente em janeiro consegui retornar. Dessa vez, com mais conhecimento em terreno de montanha e mais energia pessoal, o que tornou essa experiência ainda mais intensa, com a oportunidade de me lançar em novos desafios.
A grande surpresa foi, que depois de morar em tantas cidades, de viver três anos como nômade pelo mundo, o destino me presenteou com uma “casita” em El Chaltén, na Argentina, com vista da janela para o Fitz Roy, como eu sempre sonhei!
É muito especial como a minha energia se conecta com as montanhas e as pessoas desse lugar. Sinto que me preparei na última década para estar “pronta” para viver a aventura de lidar diariamente com o frio, o vento e as especificidades de viver no “fim do mundo” e sou muito grata de poder compartilhar essa experiências com outras pessoas no meu trabalho como guia.
CICLOVIAGEM SOLO E AUTOSSUFICIENTE pela Patagônia Norte Argentina
Viajar de bicicleta pela Patagônia era um sonho que me acompanhava desde os tempos da universidade, mas que durante muito tempo pareceu muito distante, tanto financeiramente, como fisicamente. Mas, ele sempre me acompanhou e foi pensando nele que vim me preparando durante anos.
Aproveitei as longas horas em casa durante a pandemia para planejar a tão sonhada viagem de bicicleta, mas o destino acabou mudando todos os meus planos iniciais. Primeiramente, o voo para o verão de 2021 teve que ser adiado para 2022, o que acabou sendo positivo, pois consegui me organizar melhor com equipamentos e me preparar melhor mentalmente e fisicamente. Inicialmente, planejava pedalar por 40 dias, mas um ótimo convite de trabalho para guiar em El Chaltén, meu destino principal, que me ajudou a tomar a decisão de permanecer mais tempo por lá, fizeram eu mudar meu traçado e acelerar o ritmo da viagem. Mas, preferi me adaptar do que adiar novamente esse sonho.
Algo me dizia que eu quando eu retornasse para a Patagônia, eu precisava começar pela cicloviagem e assim foi! Depois dos trâmites de fronteira, cheguei em San Martin de Los Andes, onde tirei minha bike pela primeira vez da caixa e montei no pátio da frente do pequeno aeroporto de madeira e de lá segui viagem por 600 km até a cidade de Esquel. Foram nove dias de cicloviagem, sendo 8 dias de pedal e um de trekking pelo Cajon del Azul em El Bolsón.
Comecei minha cicloviagem pelo impressionante Circuito do Sete Lagos, na Ruta 40, de San Martin de Los Andes a Bariloche, tive uma primeira noite de acampamento no Lago Hermoso, que foi impressionante e deu energias depois de um longo dia de subidas com os pesados alforges no meu primeiro dia de pedal mais longo e me mostraram como seria meu trajeto de lá para o final.
A “marca registrada” da Patagônia, as mudanças constantes de clima marcaram meus dias de pedal, com chuva, frio, onda de calor, ventos de erguer a minha bike, às vezes tudo em menos de uma hora e em longas horas de subida, me fizeram enxergar em mim uma força que eu sempre tive dificuldade de acreditar e foi uma linda jornada de crescimento pessoal.
Irei lembrar para sempre de cada paisagem que pude contemplar nesse trajeto e poder percorrer pedalando sozinha pela Ruta 40, atravessando três províncias argentinas foi muito especial.
Vivenciando os PARQUES NACIONAIS e áreas naturais da Argentina.
Durante o minha cicloviagem, atravessei 6 Parques Nacionais argentinos e outras áreas naturais protegidas, sendo elas:
1 – Parque Nacional Lanín
Localizado na Província de Neuquén, nas proximidades de San Martin de Los Andes, o parque é conhecido sobretudo pelo vulcão Lanín e preserva variados bosques frios da formação denominada de selva Valdiviana, abrigando árvores centenárias que não são mais encontradas em outras regiões na Argentina. Os lagos Huechulafquen e Lácar são os mais visitados, existindo ainda o Paimún, o Curruhue e o Lolog.
2 – Parque Nacional Los Arrayanes
Localizado entre Bariloche e Villa la Angostura, também na Província de Neuquén, o Parque preserva um belo bosque com predominância de árvores do tipo arrayanes, hoje encontradas em pouquíssimas regiões do Chile e da Argentina.
3 – Parque Nacional de Nahel Huapi
Na província de Rio Negro, está localizado o Parque Nacional mais antigo da Argentina, criado em 1922, protegendo 717 mil hectares. O Lago Nahuel Huapi é o principal atrativo, pois rodeia a cidade de Bariloche. Mais abriga muitos outros atrativos famosos como o Cerro Tronador, Cascada de los Alerces e Río Manso.
4 – Área Natural Protegida Rio Azul – ANPRALE
Localizado em El Bolsón, na província de Rio Negro. É parte do “Sistema Provincial de Áreas Naturales Protegidas de Río Negro” e é o importante corredor ecológico de dois Parques Nacionais: Nahuel Huapi y Lago Puelo. Também é parte da Reserva de Biósfera Andino Norpatagónica. Ele preserva 65 mil ha de Bosque Andino Patagônico destinado a atividades recreativas, educativas e científicas, contando com dezenas de circuitos de trilhas e com estrutura de refúgios e sinalização.
5 – Parque Nacional Lago Puelo
Criado em 1937, tem cerca de 27.600 ha. e seu destaque são as montanhas, com lagos glaciais que contém elevado teor de sedimentos glaciais que faz transmitir uma cor turquesa e opaca na água. Dentro do parque, existem os residentes permanentes e uma boa infraestrutura para receber turistas buscando simplicidade e contato ao ar livre.
6 – Parque Nacional los Alerces
Localizado na região de Esquel, na província de Chubut, é um dos Parque mais bem estruturados do país. Considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, possui, aproximadamente, 270 mil hectares, sendo 7 mil dedicados a preservar os bosques milenares dos Alerces, árvores com quase 3 mil anos. Além de muitos lagos, montanhas e glaciares como o Glaciar Torrecillas.
A chegada em El Chaltén, capital nacional do trekking
A chegada em El Chaltén já é emocionante! Quando saímos da Ruta 40 sentindo El Chaltén pela Ruta 23, em dias de bom tempo, já somos presenteados por um visual alucinante do Lago Viedma e de toda cadeia montanhosa, com o imponente Cerro Chaltén, mais conhecido como Fitz Roy.
Assim, antes mesmo de chegar, já nos apaixonamos por esse pueblo, localizado dentro do Parque Nacional Los Glaciares. Quando chegamos, descobrimos que “o final do mundo” é habitado por uma comunidade apaixonada pelas montanhas e que preza mais pelo contato com a natureza e a energia dos seus “cerros”, escolhendo um estilo de vida simples, longe de lojas e grandes centros.
Organizado para proteger a fronteira da Argentina com o Chile, Chaltén tem hoje 1.627 habitantes, chegando a 800 durante o período invernal. Dezenas de trilhas que iniciam de dentro do pueblo, vias de escaladas de boulder, esportiva e montanhismo, caiaque, MTB e outras tantas atividades tornam essa região um paraíso para amantes de esportes de aventura e ecoturismo.
Parque Nacional los Glaciares
Localizado na Província de Santa Cruz, é o segundo maior Parque Nacional Argentino. Foi criado em 1937 e protege 276 mil hectares. O parque é limitado a oeste pela fronteira chileno-argentina desde o Cerro Fitz Roy/Chaltén até o Cerro Stokes, abrangendo parte do terceiro maior campo de gelo do mundo, o Campo de Hielo Patagônico Sul (atrás apenas da Antártida e Groenlândia) e dezenas de montanhas, lagos e glaciares. É considerado, desde 1981 Patrimônio Mundial da Unesco e protege algumas das montanhas mais icônicas do mundo, como o Fitz Roy e o Cerro Torre.
PRINCIPAIS TRILHAS DA REGIÃO DE EL CHALTÉN
Laguna de los Tres
Com, aproximadamente, 24 km de extensão (ida e volta) e 1.100m de ganho de elevação, é a mais famosa por levar os visitantes até a Laguna de Los Tres. Certamente, arrisco a dizer que é um dos lugares mais lindos do mundo, com um lago turquesa emoldurado pelo visual impressionante do Cerro Fitz Roy.
Laguna Torre
Essa é uma das minhas trilhas favoritas, com visuais impressionantes do Glaciar e do Cerro Torre e um delicioso terreno de montanha para caminhar por seus 20 km (ida e volta). Possui cerca de 600m de ganho de elevação, atravessando lindos bosques até a Playa de los Icebergs, no Lago Torre, com um visual impressionante do Cerro Torre.
Loma Piegle Tumbado
Um dos bosques mais lindos de Lengas e bem menos visitadas, que as principais trilhas acima, é uma excelente alternativa para fugir da “muvuca” da alta temporada ou para contemplar um dos visuais mais impressionantes acessados caminhando, podendo contemplar do alto do mirante todo o vale desde o Cerro Solo, Cerro Grande, Cerro Torre e o Fitz Roy e suas agulhas, que fazem valer a pena seus 10 km e 1000m de ganho de elevação.
Piedra del Fraile
A trilha inicia na ponte do Rio Electrico, há 14 km do pueblo e os primeiros 7 km são de uma caminhada tranquila pelo bosque de lengas até chegar ao refúgio, particular que oferece serviços de pernoite e refeições. De lá, existem muitas possibilidades de trilhas, uma delas é o acesso a Piedras Negras, que leva as escaladas das agulhas Mermoz, Guillaumet e a base do Fitz Roy e também o acesso ao Lago Electrico, que dá acesso ao Paso Marconi, para a icônica Travessia do Campo de Gelo Sul.
Lago Huemul
Há 37 km do pueblo, sentido a divisa com o Chile, essa trilha de inicia no Lago del Desierto. São apenas 5km (ida e volta) pelo bosque até um dos lagos turquesas mais impressionantes e de fácil acesso da região. Por ser um acesso fácil para o visual impressionante do Glaciar, é uma das trilhas mais visitadas, mas vale muito a pena.
Trek Volta do Huemul
Uma travessia ainda pouco conhecida pelos brasileiros, que acessa trilhas bem menos visitadas e pouco demarcadas, que levam ao impressionante e icônico Paso del Viento, com visual inesquecível para o Campo de Hielo Patagônico Sur. São 75 km de extensão, normalmente realizados em 4 dias, com 2 travessias em tirolesa (necessário levar equipamento), uma caminhada sobre um glaciar “sujo” e a maior parte da caminhada por terreno de morenas entre subidas e descidas.
Eu me sinto na Patagônia em um terreno de possibilidades infinitas, com segurança para me aventurar sozinha ou simplesmente sair de casa em El Chaltén e deixar a porta aberta, meu verdadeiro luxo nos tempos de hoje.
Me sinto livre para ser eu mesma e buscar em mim a minha melhor versão.
Convido a você que um dia se permita experimentar a energia e contemplar as paisagens impressionantes dessa região. Seja por alguns dias ou por alguns meses, percorrendo a região Norte ou o Sul, no Chile ou na Argentina, tenho certeza que há uma experiência incrível e transformadora aguardando por você!
Meu check list SOLO
Élida Zuchini é formada em Turismo pela UNESP e desde 2011 atua como guia, já tendo participado e guiado expedições por 23 Estados Brasileiros, Cordillera dos Andes, Cordillera Blanca, diferentes regiões Alpinas, Dolomitas, Himalaia e Patagônia Chilena e Argentina. Viveu como nômade nos últimos anos, percorrendo diferentes regiões do mundo guiando grupos, mas hoje tem como base a cidade de El Chaltén na Patagônia Argentina e Itamonte/RJ na Serra da Mantiqueira.
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Válido até janeiro 2023.