Por Mario Mele
Não faz tanto tempo assim que as “cabanas” (às vezes também chamadas de “cabines”) chegaram ao Brasil. Este estilo de “hospedagem minimalista” já é valorizado “lá fora”, principalmente em regiões montanhosas. E, apesar de ser um modelo ainda pouco explorado por aqui, já há projetos recentes para mudar esta realidade.
As cabanas são espaços que levam em conta o contato íntimo com a natureza, com uma arquitetura que “conversa” com o ambiente externo — que geralmente é um lugar paradisíaco. Sua área normalmente equivale a de um apartamento pequeno de um quarto, e ainda com poucos recursos tecnológicos à disposição. Mas nem por isso uma cabana deixa de oferecer excelente infraestrutura aos seus visitantes, com itens como lareira e fogão à lenha, além de acessórios de cama, mesa e banho idênticos aos de um hotel 5 estrelas.
No mundo inteiro, o objetivo é o mesmo: dar uma chance de nos desconectarmos do mundo virtual de e-mails e mídias sociais, para aproveitar a bela vista para um vale ou uma lagoa, por exemplo. É também uma boa oportunidade para casais estreitarem laços, já que não haverá distrações virtuais. Não é por acaso que, no Brasil, a reserva para passar uma noite em uma dessas cabanas que listamos a seguir deve ser feita com, pelo menos, mais de um mês de antecedência.
A pouco mais de 170 km de São Paulo, Catuçaba, um distrito do município de São Luiz do Paraitinga (SP), praticamente inaugurou a história das cabanas no Brasil: uma cabine ecológica pré-fabricada e compacta de 45 metros quadrados, com conforto de água quente, fogão à gás e frigobar, mas nada de wi-fi. Os espaços foram meticulosamente pensados, delimitados por grandes janelas de vidro e equipados por uma convidativa lareira e uma confortável cama de casal. Na área externa, espreguiçadeiras e mesa de jantar aproximam os hóspedes da vida ao ar livre.
O espírito das cabanas é esse mesmo. Durante o dia, uma oportunidade de se aproximar da natureza, seja curtindo em silêncio o canto dos pássaros na área externa, seja explorando os arredores. A cabana em Catuçaba, inclusive, foi montada em uma propriedade de 5 hectares, onde há trilhas cortando um bosque que leva a uma lagoa privativa. O lugar é lindo!
Em Joanópolis (SP), a Casa Flutuante Altar é outra opção minimalista que não deve nada a um 5 estrelas –claro, se a sua intenção for realmente deixar o celular desligado.
Os 64 m² de área útil (38 m² na parte interna e 26 m² na externa) boiam sobre a limpíssima represa do Jaguari, aos pés da Serra da Mantiqueira, e são equipados com cama queen no quarto, lareira na sala e um fogão à lenha Noori na área externa — perfeito para você por suas habilidades de chef em prática. É uma cabana super exclusiva, com capacidade máxima para 2 pessoas.
O combo “natureza, autossuficiência e design” também é um pacote oferecido pela casa Casa Vista, em Extrema, no sul de Minas Gerais.
O lugar foi 100% pensado por artistas, com a diferença de oferecer um espaço um pouco mais amplo (dois quartos, cada um com uma cama de casal) e luxos extras, como rede Wi-Fi e piscina de borda infinita. À noite, no entanto, o ambiente é propício para você abrir um vinho e, quem sabe, colocar uma boa música ambiente para tocar. Ou simplesmente esticar-se no deck externo para admirar as estrelas. Ou, ainda, fazer isso do quarto mesmo, observando-as através de uma das paredes de vidro.
Se no Brasil as cabanas são uma novidade, em lugares como a Noruega ou os Alpes Franceses, elas já têm uma longa história. Um hyttetur, ou “uma viagem a uma cabana norueguesa”, já é uma espécie de aspecto cultural.
Originalmente, as cabanas eram refúgios de montanha que hospedavam viajantes que cruzavam os vales a pé. Ainda no começo do século 19, elas passaram a ser um destino turístico bastante popular no verão.
Desde 2020, durante a quarentena obrigatória imposta pelo governo para conter a propagação da COVID-19, os noruegueses ficaram indignados em não poder viajar às suas cabines na montanha. Isso resultou em uma onda de mudança de endereço, já que, dessa forma, legalmente eles poderiam frequentar suas cabanas.
Não é tão incomum os europeus planejarem suas férias colocando as cabanas no roteiro: é sempre um momento especial visitar uma cabana isolada, seja para uma simples parada na trilha, enquanto tenta se chegar aos picos mais altos, ou como o próprio objetivo da caminhada.
Nesses lugares, as cabanas continuam sendo uma obra arquitetônica multifuncional, que proporcionam um abrigo seguro, ao mesmo tempo em que asseguram aos seus visitantes uma nova experiência: viver em um mundo fora do tempo e espaço ao qual estão acostumados.