Viajar para o Velho Mundo, pela primeira vez ou não, traz consigo uma grande dúvida: quais países? Quais cidades? Um roteiro para Europa é, acima de tudo, o resultado de dolorosas escolhas — não há tempo para se visitar todos os lugares que se deseja.
Diante da dificuldade de selecionar destinos e atividades, muitas pessoas acabam de limitando ao roteiro turístico padrão (que chamaremos de Lado A), mas isso é um erro. A Europa tem países, regiões e cidades que não estão no topo das listas de mais procurados pelos turistas, mas ainda assim proporcionam experiências inesquecíveis e, possivelmente, mais autênticas.
Roteiros “Lado B” podem ser realizados até mesmo em cidades que são a cara do Lado A. As regiões do Trastevere, em Roma, do Canal de San Martin, em Paris, e do Regent’s Canal, em Londres, são algumas delas, para ficarmos somente em três exemplos.
Tendo isso em vista, neste texto, vamos listar roteiros Lado A e Lado B para que você possa ter ideias para misturar essas duas abordagens em sua próxima ida à Europa. Você vai aproveitar muito mais a sua viagem, pode ter certeza.
Vamos começar pelos roteiros do tipo Lado A, ou seja, aqueles obrigatórios. São países e cidades que normalmente já estão na primeira viagem ao continente e que além disso, quem pode, volta ao longo dos anos para conhecer novas e rever as antigas belezas que tornam esses lugares mundialmente conhecidos e desejados como destino.
Nossas primeiras dicas são sobre a capital inglesa, provavelmente a mais vibrante e cosmopolita das cidades europeias. Não seria exagero dizer que, há alguns séculos, Londres é a esquina do mundo. No entanto, por mais esse seja um roteiro Lado A, não vamos te mandar ao Palácio de Buckingham ou ao Big Ben. Vamos pensar um pouco fora de caixa e fazer algo mais criativo.
Uma boa ideia seria, por exemplo, dar uma volta no pedaço mais central e turístico usando uma das centenas de bicicletas disponibilizadas pela prefeitura da cidade, em parceria com um banco. É super fácil de usar: basta ir a uma das estações, pagar uma taxa com o cartão de crédito (“Mas não é de graça?” Calma, basta devolver em até 30 minutos que você não vai pagar nada) e sair pedalando.
O limite de 30 minutos, que inicialmente pode parecer desagradável, acaba sendo um incentivo para você alternar meia hora de pedalada com paradas em pontos interessantes. Dá para fazer um roteiro da Tower até a Albert Bridge. São pouco mais de 8 quilômetros.
Esse é um trajeto que dá para fazer em um intervalo de tempo que pode variar de uma hora (dois trechos de 30 minutos) até um dia inteiro — ou, se organizar direitinho, pode ser algo para fazer durante a vida inteira — diante da história, cultura e civilização acumuladas ao longo de séculos nesse lugar.
Outra possibilidade é explorar lugares onde é possível encontrar mais moradores locais do que turistas e ter experiências autênticas por lá. Os bairros de Brixton, com forte influência jamaicana, e Camden Town, um dos mais descolados e alternativos da cidade, são bons exemplos. Feiras como a de Portobello Road, (eternizada em “Um lugar chamado Notting Hill”) também são boas opções.
A encantadora cidade da Catalunha tem muito mais do que as ramblas, o time de futebol e o espírito rebelde com que luta pela autonomia em relação ao governo espanhol. Barcelona é a cidade Gaudí, de Miró, da juventude de Pablo Picasso e de um conjunto medieval único no mundo, conservado na região da Cidade Velha.
Aliás, já que citamos um filme para Londres, lá vai um para Barcelona também: “Albergue Espanhol” é uma comédia que mostra o cotidiano de um grupo de intercambistas na cidade. Nele, aparecem alguns dos principais programas dos jovens da capital catalã.
Em um roteiro mais curto, nossa sugestão, além das ramblas, da Plaza Catalunya e do Mercado de La Boqueria, todos do Lado A, é priorizar o roteiro das obras de Gaudí. Não há nada, absolutamente nada em outro lugar do mundo que se assemelhe às obras do arquiteto catalão.
Comece pela Igreja da Sagrada Família, Parque Güell, Casa Milà (ou La Pedrera) e Casa Batlló, as mais conhecidas. Mas, se tiver tempo, estenda a jornada para outras opções entre as dezenas de construções projetadas por Gaudí, como o Palácio Güell, a Casa Vicens e a Bellesguard Finca Güell.
Já que a ideia é falar até mesmo nos roteiros Lado A, mas de opções menos batidas, vamos deixar Paris de fora, ok? Nossa parada na França será na região da Provence, que fica no sul, às margens do Mediterrâneo, e está longe de ser uma desconhecida. Pelo contrário, é considerada por muita gente como a região mais charmosa daquele país.
Um passeio pela Provence deve, necessariamente, incluir sua capital, Marselha, e mais algumas cidades: Aix-en-Provence, Avignon e Arles, por exemplo. Não faltam, porém, vilarejos encantadores (Luberon e Alpilles, para citar só dois) e belezas naturais, como o parque Gorges du Verdon e os maravilhosos campos de lavanda.
A Provence exerce uma enorme atração sobre os artistas. Aix-en-Provence, por exemplo, inspirou as pinturas de Paul Cézanne, o mestre impressionista que mais influenciou Matisse e Picasso. Mais recentemente, no final do século XX, foi a vez da cantora de jazz americana Nina Simone se apaixonar pela cidade e fixar residência lá. Arles, por sua vez, foi, durante anos, a morada e cenário das obras de Van Gogh.
Avignon, que ainda exibe grande parte de seus muros medievais, foi a morada de nove Papas, durante pouco mais de um século, o que pode ser notado na grandiosidade de sua catedral. A cidade também é porta de entrada para uma região que reúne alguns dos melhores vinhos do mundo, do Rhône à Borgonha.
Para a terra de Dante e de Fellini, pode-se facilmente sacar um clichê e dizer que se trata de um país de contrastes. Entre o rico norte e o pobre sul, há diversas regiões separadas pelos Apeninos que são cheias de identidade própria. Não estranha que, com cenários tão diferentes, a Itália tenha sido um dos últimos estados europeus a se formar, já no século XIX.
Um roteiro que se inicie pela elegante Milão ou pela aristocrática região de Como e se estenda até a Sicília (ou, pelo menos, até Nápoles) é a oportunidade de conhecer essa diversidade. No meio do caminho, vale a pena parar para ver a herança do Renascimento em Florença, as tradições medievais de Siena, a cultura camponesa da Emília-Romanha, os encantos naturais da Úmbria, a grandiosidade de Roma e sua tradição milenar, entre outras atrações.
Em Nápoles, Costa Amalfitana e Capri, o turista encontra algumas das mais belas praias da Europa e aquele estilo de vida que mata qualquer um de inveja.
Com a superação do socialismo, o fim das guerras e ampliação da União Europeia, novos países se uniram ao circuito que congrega o interesse de turistas do mundo inteiro. Da Islândia aos países da antiga Cortina de Ferro, há um mundo de novas opções para quem quer conhecer lugares diferentes e interessantes. Vamos ver três deles agora.
A terra dos vikings abrange os territórios que formam hoje a Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia e Islândia. De ver a Aurora Boreal a conhecer a Lapônia (o lar do Papai Noel), passando por passeios nos fiordes e as belas capitais, a Escandinávia tem muito a oferecer.
O seu roteiro, aliás, pode começar por qualquer uma das quatro capitais: Copenhague, Oslo, Helsinque ou Estocolmo (Reikjavik e a Islândia como um todo, nós vamos deixar para a próxima devido à distância, ok?). A partir delas, você pode montar roteiros que incluem as melhores atrações.
Na Noruega, por exemplo, Oslo — fundada há mais de mil anos — é parada obrigatória, com seus muitos museus, alguns dedicados exclusivamente aos vikings. Bergen, por sua vez, é uma linda cidade portuária que serve como ponto de partida para explorar as montanhas e a região dos fiordes. Já Tromsø é a porta de entrada para a busca pela Aurora Boreal, que ocorre nos invernos.
Na Suécia, vale gastar alguns dias em Estocolmo, a mais bonita das capitais escandinavas, formada por 14 ilhas (uma delas, Gala Stam, de rara beleza). A partir de lá, é fácil chegar em outros destinos como as cidades de Birka, cidade que foi abandonada no século X por motivos desconhecidos e se tornou Patrimônio Mundial da Unesco. Gotemburgo, uma das cidades mais ricas do país, é também um importante polo cultural, com museus incríveis, que tratam da navegação à moda.
Helsinque, a capital da Finlândia, é uma das cidades europeias da cultura e extremamente “caminhável”, o que é bom para turistas. Mas a principal atração do país é mesmo a Lapônia, região onde vive a população esquimó dos Saami e que é conhecida como a Terra do Papai Noel. Lá, quase na fronteira com a Rússia, o viajante encontra, na cidade de Rovaniemi, a casa e o “escritório” do Bom Velhinho.
Menor dos países escandinavos, a Dinamarca tem sua capital, Copenhague, como maior atração. Passeios de barco pelos muitos canais da cidade e uma malha de 390 km de ciclovias são as principais opções para a locomoção de moradores e turistas. Um destaque é o Tivoli, mais antigo parque de diversões do mundo.
Vale destacar que na terra onde surgiu o Lego, há diversas legolândias espalhadas. Uma delas, a mais antiga de todas, fica na cidade de Billund e conta com mais de 59 milhões de peças!
Já tem pelo menos 20 anos que Praga, capital da República Checa, tornou-se a queridinha dos roteiros turísticos europeus. Comparada com Paris, suas belezas fascinam muita gente.
Apesar disso, a República Checa tem muito mais a oferecer do que apenas sua capital. Dividido em três regiões (Bohemia, Moravia e Silésia), o país conta com belos castelos, como o de Kutná Hora, Patrimônio Mundial pela UNESCO, e cidades famosas pelas suas cervejas, como Pilsen, entre outras atrações.
A Bohemia do Sul oferece variadas opções de trilhas para bicicletas na região serrana e cidades históricas muito bem preservadas, como Český Krumlov e České Budějovice. Na Moravia, o destaque fica por conta da animada e cultural Brno.
A terra dos magiares foi uma das que mais mudaram desde o fim do regime comunista. Budapeste, sua capital, ainda é uma das capitais mais subestimadas da Europa, mas não é exagero dizer que concorre com Praga e Viena em beleza e as supera em animação. Não perca de jeito nenhum.
Um bom passeio por Budapeste se divide entre as duas partes formam a cidade: Buda e Pest, separadas pelo Rio Danúbio. Entre as principais atrações, o Palácio Real, que literalmente reina de cima de uma colina, o Parlamento Húngaro, a Basílica de São Estevão e as belíssimas pontes que ligam os dois lados. De onde quer que você olhe, o cenário é tirar o fôlego.
Saindo da capital, o país está cheio de opções ainda relativamente livres das hordas de turistas. Indo para o Nordeste, você chega ao Mosteiro Pannonhalma, Patrimônio da Humanidade com mais de mil anos de fundação. Em Gödöllő, nas vizinhanças de Budapeste, pode-se visitar a residência dos imperadores Habsburgo.
O Lago Balaton, um dos maiores de toda a Europa, é outro belo cenário. Rodeado por povoados e residências suntuosas construídas pelos nobres do império austro-húngaro, é um centro de esportes aquáticos nos meses mais quentes do ano.
Beleza também é relaxar em cruzeiro pelo rio Danúbio, passando por lindas cidades e aldeias repletas da identidade desse povo. É uma experiência que vai ficar marcada na sua memória.
Conhecer o continente europeu juntando o interesse pelos cartões postais e pelo Lado B, no qual se pode chegar mais perto da verdadeira cultura local e a identidade viva dos moradores de cada região, é uma maneira de tornar suas viagens mais ricas, profundas e certamente inesquecíveis.
Se você gostou da ideia, que tal compartilhar com a gente seu roteiro para Europa e suas experiências e expectativas sobre o Lado A e o Lado B dos países que você conhece ou pretende conhecer? Para a gente, vai ser um prazer ouvir suas histórias e tirar eventuais dúvidas. Deixe seu comentário aqui no post!