Você já ouviu falar no canionismo? Esse é um ótimo esporte para quem gosta de atividades ao ar livre e também é indicado para quem adora uma aventura. Afinal, a palavra canionismo vem do inglês canyoning, que significa a exploração esportiva de cânions. A prática consiste em percorrer cursos d’água, na vertical ou na horizontal, passando por diferentes obstáculos. O melhor é que esse esporte não causa impacto nenhum no meio ambiente. E então, você se interessou por essa modalidade esportiva? Confira este post e saiba tudo sobre o canionismo. Boa leitura!
O canionismo é praticado em ambientes aquáticos, geralmente descendo um rio, um riacho ou um córrego. Falando assim pode até parecer algo simples, mas, em um ambiente natural, você vai encontrar corredeiras, cachoeiras, poços e pedras cobertas pela mata. É na ultrapassagem desses obstáculos que estão os desafios do esporte.
Então, se você está interessado em conhecer essa atividade, prepare-se para muita aventura e para superar os seus limites em meio à natureza selvagem. Árvores, mata, água e rochas não vão faltar!
Imagine caminhar dentro do rio, sempre no sentido da correnteza, passando por mata fechada, retornando ao rio e, de repente, encontrar uma cascata altíssima que você precisa encarar! Ou seja, você pode ter certeza que adrenalina e lindas paisagens te acompanharão durante todo o trajeto.
Por envolver muitos obstáculos, o recomendável é que o canionismo seja praticado por grupos de, no mínimo, três pessoas, para que elas possam se ajudar no caso de imprevistos e também na ultrapassagem dos obstáculos.
O canionismo é considerado um esporte contemplativo e recreativo. As competições são baseadas no trabalho em grupo e na união, com foco na desenvoltura e na regularidade das equipes.
Para praticá-lo é necessário conhecer bem técnicas verticais (ascensão por corda, rapel e escalada), águas brancas (canoagem e rafting), natação em corredeiras (floating), caminhada (water-trek), slides (tobogãs) e saltos.
Também é importante ter noções apuradas de autorresgate, orientação e primeiros socorros — além, é claro, de saber utilizar os equipamentos necessários. São eles:
Dependendo do lugar onde você for praticar o canionismo, outros equipamentos podem ser necessários. Afinal, como já dissemos, o esporte pode envolver rapel, rafting, trekking, arvorismo e tirolesa.
Mesmo com os conhecimentos técnicos e os equipamentos necessários, é preciso prestar atenção nos obstáculos no caminho. As pedras escorregadias, por exemplo, podem causar torções e atrapalhar a caminhada.
Outro ponto importante é acompanhar a previsão do tempo. Afinal, uma chuva inesperada pode aumentar o nível do rio de repente e pegar os praticantes desprevenidos.
Por isso, é fundamental observar o céu: pode não estar chovendo onde você se encontra, mas se houver chuva na cabeceira do rio, o volume de água pode aumentar em pouco tempo. Esteja sempre atento!
Não se sabe o ano exato em que o canionismo começou a ser praticado no mundo. Há quem acredite que ele tenha começado ainda no período pré-histórico, quando diferentes populações habitavam locais selvagens no mundo — inclusive as regiões de cânions.
Como essas regiões geralmente são íngremes, com vales profundos e com correntes de água, essas populações se aventuravam em meio à natureza e, sem querer, praticavam canionismo — afinal, essa prática era algo do cotidiano e não era reconhecida como um esporte.
Apesar disso, os primeiros relatos de expedições relacionados à exploração de desfiladeiros e cânions é um pouco mais recente, do século XIX.
Um nome se torna muito conhecido no século XX: Edouard-Alfred Martel. Considerado o pai da espeleologia, área que estuda as grutas e cavernas, Martel realizou explorações de cavernas e cânions no maciço dos Pirineus, entre a Espanha e a França.
No início do século XX, em 1904, Martel e sua equipe fizeram a primeira descida completa do rio Verdon, localizado no sul da França, nos departamentos de Alpes-de-Haute-Provence e Var.
Mesmo com equipamentos muitos rudimentares e pesados a equipe conseguiu a façanha de percorrer todo o trecho em apenas quatro dias, enfrentando correntezas, altas cascatas e pedras escorregadias.
Martel, sua equipe e outros dois franceses — Lucien Briet e Armand Janet — continuaram a fazer expedições no período. No entanto, em determinado momento, devido à falta de equipamentos de segurança, os trajetos foram se tornando mais complicados, com cascatas muito altas e de difícil ultrapassagem.
Depois de Martel, poucos se aventuraram pelas cavernas no início do século XX. Somente nos anos 1970 a atividade exploratória passou a ser realizada mais sistematicamente, com o desenvolvimento de equipamentos de segurança adequados — principalmente aqueles voltados para a exploração vertical dos territórios.
Nesse momento, o que era conhecido como espeleologia a céu aberto passou a percorrer um caminho próprio, incluindo não somente cavernas, mas também rios em garganta e cânions.
O canionismo — com esse nome — surge, então, nesse período, inspirado nas técnicas de esportes praticados em águas brancas, como o caiaquismo, o rafting e o hidro speeding.
Rapidamente o canionismo se difundiu na Europa, ganhando nomes diferentes em cada localidade —“barranquismo”, na Espanha, “canionisme” ou “gargantisme”, na França, “torrentismo”, na Itália. No entanto, se você quer se fazer entender no mundo todo, basta falar a palavra inglesa “canyoning”.
Atualmente, o esporte ainda é mais praticado em países europeus, embora esteja ganhando cada vez mais adeptos em diferentes partes do mundo. O que acontece é que, na região dos Pirineus, diferentes trajetos e cânions já foram mapeados.
Não é à toa que os franceses se destacam em número de praticantes do esporte — seguidos pelos espanhóis. Dentre os europeus, cinco nomes se destacam na prática do esporte: Jean-Paul Pontroué, Alex Batllori, Patrick Gimat, Fernando Biarge e Enrique Salamero. O norte-americano Rich Carlson também está entre os mais conhecidos.
No Brasil, a prática do canionismo começou entre os anos de 1980 e 1990. Porém, um pouco antes, em 1950, se tem notícia de que fazendeiros e criadores de gado faziam algo parecido na região da Serra Geral, localizada na fronteira dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Em busca de regiões bem irrigadas e próprias para a agricultura e a criação de gado, os gaúchos percorriam áreas ainda pouco exploradas e de difícil acesso. Eles faziam, por exemplo, travessias entre cânions e cursos d’água.
Quando a notícia da prática de canionismo na Europa, mais especificamente na França, começou a ser difundida no Brasil, entre as décadas de 1980 e 1990, o esporte passou a ser praticado por aqui de maneira mais sistemática.
A partir disso, algumas equipes de exploração de cânions foram formadas e a prática foi ganhando espaço entre os brasileiros. O grupo pioneiro no Brasil foi encabeçado pelo espeleólogo e fotógrafo Carlos Zaith, considerado o pai do esporte no Brasil.
A equipe de Zaith (formada por Barreta Filho, Paulo Roberto de Oliveira, Marisa Góes e Walther Guerra) buscava e mapeava os mais desconhecidos cânions brasileiros. O projeto passou a se chamar H2Omem, que ainda hoje produz roteiros turísticos, capacita profissionais e organiza passeios e expedições —mesmo após a morte de Zaith, em 2012.
No início, o foco do grupo era o quintal de casa, ou seja, a equipe começou a explorar as regiões serranas de São Paulo. No entanto, os membros da equipe ficaram conhecidos como os primeiros a descer os 340 metros da cachoeira da Fumaça, na Chapada Diamantina (BA), em 1996.
Atualmente, os principais brasileiros praticantes do canionismo são Fernando Santana, Álvaro Barros, Henry Lummertz, Neyton Reis e Rafael Brito, reconhecidos nacional e internacionalmente.
Não precisamos nem falar que o Brasil é um país com muitas possibilidades para a prática de canionismo, não é mesmo? Afinal, nosso país é conhecido por suas belas paisagens naturais. É até difícil listar onde se pratica canionismo em terras brasileiras, mas vamos a alguns dos lugares mais conhecidos:
A Chapada dos Veadeiros, em Goiás, se tornou um dos locais mais conhecidos para a prática de canionismo. O local possui expedições de níveis e durações variadas, como a dos cânions do Macaquinho, Raizama, Morada do Sol e do Alto Tocantins, que têm duração média de seis dias.
Essas expedições têm como foco os principais córregos que formam o rio Tocantins: Macaquinho, Macaco, Raizama e Farias. No entanto, há também locais mais inóspitos a serem explorados, como a região do sítio histórico Kalunga — povoado formado por descendentes de escravos.
O esporte chegou à Chapada dos Veadeiros em 1997 e, de lá para cá, tem crescido rapidamente.
Uma cadeia de montanhas que se estende por três estados brasileiros (Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro) só podia render boas expedições. O local começou a ser explorado pelos montanhistas Bruno Dias e Rogério Cabral.
A dupla explorou o cânion do Bugio, nas proximidades do município de Baependi — essa foi considerada a sua primeira conquista. Depois disso, Bruno e Rogério realizaram várias outras expedições.
As conquistas mais conhecidas são a sequência de quedas da cachoeira da Juju, um dos cânions mais visitados de Minas Gerais, e o Cânion do Cavalo Baio, em Baependi. Essa última também contou com a participação de Filipe Condé e Roberto Paiva Filho.
Atualmente, o Cânion do Cavalo Baio faz parte da área de proteção do Parque Estadual da Serra do Papagaio (PESP), em Baependi (SP). Após a conquista desse cânion, em 2003, a expedição ficou conhecida nacionalmente e foi muito celebrada.
O Cavalo Baio foi notícia em várias revistas especializadas e virou uma referência nacional por ser considerado o maior em desnível, com 1.050 metros.
E então? Pronto para partir para uma expedição de canionismo? Basta aprender as técnicas necessárias e contar com os equipamentos de segurança, que são fundamentais para a prática do esporte.
Se você gosta de turismo de aventura e deseja saber mais sobre esse assunto ou compartilhar uma experiência, deixe um comentário no post!