A prática da escalada no Brasil vem crescendo ano a ano. Isso se deve à evolução das técnicas, que ampliaram sua acessibilidade e segurança (hoje, é possível praticar em paredes artificiais instaladas em academias e clubes) e aos óbvios ganhos físicos e mentais proporcionados pela prática: condicionamento, alto gasto calórico — que pode chegar até a 900 calorias por hora —, aumento da potência muscular, disciplina, concentração e senso de realização.
Antes, porém, de avançarmos na história e nas técnicas da escalada, é preciso deixar claro: escalada não é a mesma coisa que alpinismo. Na verdade, ela é um esporte que utiliza as técnicas e movimentos do montanhismo e nasceu como um treino técnico para os alpinistas. Com o tempo, porém, ganhou autonomia, técnicas, aparelhos e competições próprias.
Podemos, então, definir a escalada como a modalidade em que o praticante utiliza braços e pernas para escalar blocos, falésias, paredões de rocha, gelo ou montanhas. Com essa contextualização, podemos agora voltar um pouco no tempo para entender as origens da escalada e suas diversas modalidades.
Não há como contar a história da escalada sem contextualizá-la em relação ao esporte do qual ela deriva, sendo considerada até hoje uma de suas modalidades. O alpinismo, ou montanhismo, teve origem no final do século XVIII, nas montanhas dos Alpes, no Centro da Europa — por isso recebeu esse nome. O “ponto zero” dessa história está no ano de 1786, quando se deu a primeira escalada do Mont Blanc, na França.
O espírito dos primeiros alpinistas é muito bem ilustrado pela célebre frase do lendário pioneiro sir George Mallory, que virou um lema dos praticantes do esporte até os dias de hoje. Ao ser perguntado por que fazia tanta questão de escalar uma montanha, ele respondeu: “Porque ela está lá!”.
Foi justamente na época de Mallory, entre o final do século XIX e o início do século XX, que houve o maior avanço na prática do alpinismo. Tendo sido conquistadas todas as principais montanhas dos Alpes, consolidaram-se os projetos para escalar grandes elevações fora da Europa.
Esse período de evolução possibilitou que as décadas de 1940 e 1950 se tornassem uma época de ouro para o esporte, com escaladores e escaladas lendárias. Em 1950, o limite dos 8 mil metros de altitude foi superado com a conquista do Annapurna com 8.078 metros em 1950.
Três anos depois, foi a vez de se conquistar a “joia da coroa”: o Everest, montanha mais alta do mundo, com seus 8.848 metros — feito obtido pelo neozelandês Edmund Hillary e o sherpa Tensing Norkay. No ano seguinte, foi a vez do K-2, segunda montanha mais alta do mundo e de altíssima dificuldade técnica.
Do outro lado mundo, nos Estados Unidos, consolidava-se a escalada em rocha. Em 1957 e 1958, foram conquistados, respectivamente, o Half Dome (800 metros) e o El Capitan (mil metros) na Califórnia, duas paredes de pura rocha vertical.
A partir da década de 1960, a fase heroica é substituída pelo que conhecemos como alpinismo moderno. Novas técnicas, equipamentos e tipos de treinamento possibilitam, ao mesmo tempo, escaladas com níveis de dificuldade extremos e a popularização do esporte, que vê um crescimento exponencial do número de praticantes.
Entre os grandes feitos desse período, destacam-se a reconquista de algumas das montanhas mais famosas, dessa vez pelas suas vertentes (faces) mais difíceis, a subida a grandes altitudes sem o uso de oxigênio engarrafado e a conquista de paredes cada vez mais difíceis.
No final da década de 1970, na Ucrânia, surge o modelo da escalada desportiva indoor conforme conhecemos hoje. Durante o rigoroso inverno local, um montanhista ucraniano, inconformado em não poder treinar, resolveu fixar pedras na parede de casa para resolver o problema. A ideia foi copiada pelos vizinhos e propagou-se mundo afora.
Poucos anos depois, em 1985, já ocorria o primeiro campeonato mundial da modalidade, usando uma parede natural. Dois anos depois, foi a vez do primeiro campeonato em parede artificial.
Nas últimas duas décadas do século XX, a popularidade da escalada desportiva explodiu. Em 1990, foi criada a Copa do Mundo da modalidade e, dois anos depois, nas Olimpíadas de Barcelona, a escalada foi uma das modalidades de demonstração.
O movimento de expansão prossegue no século XXI, que vê a escalada esportiva se estabelecer praticamente no mundo inteiro e se tornar cada vez mais acessível. Hoje, ela pode ser praticada com segurança em qualquer grande cidade do mundo, em paredes disponíveis em academias e clubes.
Os primeiros registros de escaladas no nosso país datam da primeira metade do século XIX. Já em 1828, foram registradas excursões de subida dos 842 metros da Pedra da Gávea, montanha da Zona Oeste da capital carioca.
A primeira conquista de montanha registrada é das Agulhas Negras, no maciço do Itatiaia, em 1856, por José Franklin da Silva, até então a maior altitude já alcançada no Brasil: 2.787 metros.
Na Serra da Carioca, alguns picos — entre eles o do Corcovado, com 704 metros — já eram alcançados. Um dos ilustres visitantes do Corcovado foi o próprio imperador D. Pedro II, que ordenou que fosse construído o primeiro mirante no local.
Outro cartão-postal famoso, o Pão de Açúcar (395 metros), foi alcançado por um grupo de ingleses, que ali fincaram a bandeira de seu país para marcar a conquista. Afrontados, os militares da Praia Vermelha subiram logo depois, arrancaram a bandeira inglesa e lá deixaram uma do Brasil.
Foi no Paraná, porém, em agosto de 1879, que, pela primeira vez, um grupo de montanhistas brasileiros se reuniu com o objetivo específico de escalar, no melhor espírito dos alpinistas. Eles subiram o principal pico da Serra do Marumbi, com mais de 1.500 metros de altitude, batizado depois de Olimpo, em homenagem a Joaquim Olímpio de Miranda, líder da equipe.
Anos depois, em 1912, foi a vez de um grupo de Teresópolis, liderado pelo ferreiro José Teixeira Guimarães, alcançar o cume do Dedo de Deus, outro grande feito da história do montanhismo brasileiro. A rota utilizada por eles é percorrida até hoje e é conhecida como “Teixeira”.
Ao longo do século XX, foram escalados o Pico Maior de Friburgo, a Chaminé Rio de Janeiro (formação localizada na face sul do Corcovado), a Chaminé Gallotti, no Pão de Açúcar, entre outras.
Em 1989, foi realizado, em Curitiba, o I Campeonato Sul-Americano de escalada Esportiva, o ponto de partida para o notável desenvolvimento do esporte. Logo depois, em 1991, pela primeira vez, um brasileiro ultrapassou a marca de 8 mil metros. No dia 22 de abril, Sérgio Beck conquistou o cume do Cho Oyu, sexta montanha mais alta do mundo, com 8.188 metros.
Em 2004, foi criada a Federação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), que conta atualmente com 36 entidades afiliadas.
Hoje, há dezenas de lugares, artificiais e naturais, onde se pode praticar a escalada no país. Academias e clubes que possuem paredes adequadas para prática já se contam às centenas, ampliando o número de praticantes.
Destacamos alguns dos melhores locais, indoor e outdoor, para praticar escalada no Brasil. Confira.
Ao longo do tempo e de acordo com as condições de cada lugar, a escalada foi evoluindo e se subdividindo em categorias e modalidades. Foram, então, se consolidando algumas definições que ajudaram nesse processo, organizando as regras e os procedimentos para cada um dos tipos de escalada.
A primeira divisão é a de escaladas indoor (em ginásios, academias e clubes) e outdoor (em paredões de pedra ao ar livre), mas está longe de ser a única.
Há, por exemplo, a diferenciação entre escalada livre e artificial. Na primeira, a livre, o escalador se vale do desenho da própria pedra para subir, agarrando-se em pontas ou falhas naturais. Já na artificial, agarras são fixadas na rocha para facilitar a subida.
Outra oposição é entre as escaladas de bloco, também conhecidos como boulder, e as de falésia (ou via). Enquanto na escalada em bloco o desafio é subir em uma rocha ou parede de treino usando a força física em percursos normalmente curtos, nas falésias o que conta é a resistência. Isso porque as alturas são bem maiores.
As escaladas de falésia, por sua vez, acabaram se subdividindo em duas categorias: a clássica e a desportiva. Na clássica, não há pontos de segurança previamente estabelecidos. Cabe ao escalador encontrar os lugares propícios e fixá-los. Na desportiva, por outro lado, os pontos de segurança já estão instalados.
É preciso observar, no entanto, que tanto a escalada clássica como a desportiva são feitas com o escalador usando suas mãos e pés como instrumento para subir a parede. Por isso, são chamados de escaladas livres. A esse conceito se opõe o de escalada artificial, na qual o escalador vale-se de equipamentos como estribos para ajudar na subida.
Além dos já citados acima, há diversos outros tipos de escalada que foram se consolidando com o passar do tempo e com o aumento da especialização dos escaladores. Confira alguns destaques a seguir.
Agora que você já sabe mais sobre a história e a prática da escalada no Brasil e no mundo, que tal ficar por dentro de tudo o que acontece de mais relevante nesse universo? Então não perca tempo. Vai lá e assina a nossa newsletter!