Por Mario Mele
COM A QUEDA DA taxa de contágio e a epidemia de Covid-19 sendo controlada em praticamente no mundo inteiro, as pessoas, aos poucos, retomam a capacidade de “sonhar”: de poder, finalmente, voltar a viajar, conhecer novos lugares, se envolver e se conectar com outras culturas.
Claro que, na prática, será diferente: testes, passaportes de saúde, máscaras, divisórias de acrílico… Alguns procedimentos e acessórios ainda deverão continuar fazendo parte da rotina de nós, viajantes, por um bom tempo. Mas este “novo normal” passará, inclusive, a ser parte da experiência.
Da escolha dos destinos às atividades que procuramos, muita coisa também mudou no mundo outdoor. A começar por nós mesmos.
Baseado na recente pesquisa The New Outdoor Participant, feita pela organização comercial voltada para atividade ao ar livre Outdoor Industry Association, em parceria com a empresa de consultoria e pesquisa Naxion, e também conversando com especialistas em viagens, destacamos a seguir algumas previsões de como será “cair na estrada” e curtir a vida ao ar livre novamente:
Se tem uma coisa que a pandemia nos ensinou, foi sermos mais autossuficientes. Dias e dias de confinamento mostraram que nem toda aventura precisa ser em grupo. As pessoas estão se testando mais em viagens e aventuras em solitário. Experimente, por exemplo, acampar por uns dias, ou fazer uma travessia sozinho. E ninguém está se importando se foi preciso sobreviver a uma pandemia para descobrir o prazer que é dormir sozinho sob as estrelas.
Segundo a associação Aliança Bike, as vendas de bicicletas no Brasil tiveram um aumento de 50% em 2020, em comparação ao ano anterior. Só em São Paulo, o crescimento foi de 66%. Em 2020, durante o “fica em casa”, a procura por rolos de bicicleta também disparou: esses equipamentos simplesmente desapareceram das “prateleiras” de e-commerce. Especialistas acreditam que a bicicleta será cada vez mais tendência no “novo mundo”.
Mesmo que ainda não seja uma prática amplamente adotada no Brasil, o caravanismo tende a ganhar mais adeptos. Trata-se de um ramo do campismo em que são utilizados veículos de recreação, os chamados RVs (como os motorhomes e trailers). O bacana de viajar a bordo de um RV é o conforto e a autossuficiência proporcionados por essas instalações.
A logística sempre foi um item essencial para a execução bem-sucedida de uma viagem ou aventura. Mas agora ela se torna ainda mais importante, e deverá ser mais criteriosas do que nunca. A atenção ao usarmos objetos compartilhados, como garrafas, copos e bastões de caminhada, entre outros, também deverá ser redobrada. A questão do espaço é outra preocupação. Se você for acampar, por exemplo, haverá espaço para as barracas serem espalhadas o suficiente umas das outras?
Segundo revelou a pesquisa The New Outdoor Participant, as pessoas se mostraram motivadas a reavaliar suas prioridades, concentrando-se no que é mais importante. E atividades outdoor, além de serem econômicas, podem ser a chave para reunir crianças, familiares e amigos em lugares seguros. É um comportamento que se torna ainda poderoso a longo prazo, trazendo mudanças positivas na qualidade de vida.
Ainda de acordo com a The New Outdoor Participant, a pandemia “concebeu” novos adeptos das atividades ao ar livre, em sua grande maioria, mulheres e pessoas mais jovens, que também estão dispostas a explorar inclusive áreas urbanas.
O planejamento necessário não será apenas uma preocupação dos viajantes, mas uma exigência dos próprios receptivos. O fotógrafo e viajante profissional Caio Vilela, que já visitou mais de 100 países, acredita que destinos “lado B”, aqueles menos “muvucados”, ficarão em alta por um bom tempo no pós-pandemia. “Isso fará com que os lugares de natureza se tornem mais populares daqui para frente”, diz. Dessa forma, os próprios Parques Nacionais já se adaptam aos novos formatos. Para pisar na parte alta do PARNA de Itatiaia, por exemplo, agora é preciso agendar pelo site e pagar o ingresso com até 40 dias de antecedência à visitação.
Especialistas esperam que as operadoras de viagens e companhias aéreas mudem a forma como tratam seus clientes viajantes. As reservas serão mais flexíveis, assim como as taxas de alteração e cancelamento, mais baratas ou até mesmo inexistentes. De certa forma, a pandemia normalizou as incertezas: tudo pode acontecer e, a última coisa que queremos é ficar trancados em casa.
Talvez, a maior lição que esta pandemia nos trouxe foi a de não postergar uma viagem. Por que esperar uma década para fazer aquela trip dos sonhos, ao invés de nos programarmos e irmos o mais rápido possível? Afinal, o “amanhã” pode ser o início de uma nova epidemia – por mais que a gente torça para que isso nunca mais aconteça.